Maputo, Moçambique – Um novo capítulo na mobilidade urbana está prestes a ser escrito na Área Metropolitana do Grande Maputo com o lançamento oficial, marcado para esta quarta-feira, do Projeto Intermodal de Transporte, uma iniciativa estratégica do Ministério dos Transportes e Logística. O plano ambicioso visa integrar os sistemas ferroviário e rodoviário, promovendo uma solução eficaz para os problemas crónicos de transporte e congestionamento que há muito afetam os cidadãos de Maputo e seus arredores.
Com início na linha de Ressano Garcia, a fase-piloto deste projeto surge como resposta a uma demanda crescente por alternativas modernas e eficientes de deslocamento, afastando-se dos modelos tradicionais que se baseiam exclusivamente na expansão da frota de autocarros ou no licenciamento de mais minibuses.
A Crise da Mobilidade em Maputo: Um Desafio Antigo
Nos últimos anos, os residentes da capital moçambicana enfrentam enormes dificuldades de mobilidade, causadas por um crescimento urbano acelerado e por um sistema de transporte público frequentemente insuficiente. A entrada massiva de veículos particulares, somada à ineficiência do transporte coletivo tradicional, tem resultado em longas horas de congestionamento, perda de produtividade e aumento da poluição urbana.
Segundo Fernando Andela, Diretor dos Transportes e Segurança no Ministério dos Transportes e Logística, a solução não está apenas em expandir a frota de veículos, mas sim em pensar de forma inovadora e estrutural. “A Área Metropolitana de Maputo requer outras abordagens. Precisamos de transporte de massas para garantir uma mobilidade segura e eficaz aos usuários”, sublinhou.
O Conceito Intermodal: Um Novo Modelo de Transporte para Maputo
O projeto intermodal combina inteligentemente o uso de autocarros e comboios, oferecendo uma alternativa estratégica para os cidadãos que se deslocam diariamente entre os bairros periféricos e o centro da cidade. A ideia é simples, porém poderosa: os cidadãos embarcam em autocarros nos seus bairros, que os levam até estações ferroviárias específicas, de onde seguem viagem de comboio até à cidade.
Nesta fase inicial, foram escolhidas quatro paragens da linha de Ressano Garcia para operação do projeto:
Estação da Matola Gare
Apeadeiro de Aniel
Estação da Machava
Apeadeiro da Liberdade
O trajeto de autocarro servirá como ligação dos bairros às estações, sendo que o comboio será o principal meio de deslocamento para o centro da cidade.
Tarifas Acessíveis e Incentivo ao Uso do Transporte Público
Um dos grandes atrativos do projeto é o baixo custo para os passageiros. Durante a fase-piloto, não haverá cobrança nas viagens de autocarro, sendo que os utentes pagarão apenas pela viagem de comboio — e mesmo assim, a preços simbólicos. Segundo Fernando Andela, estudos revelaram que os passageiros sugeriram uma tarifa entre 15 e 20 meticais, valor considerado acessível e justo.
“A nossa missão é mostrar aos cidadãos que vale a pena deixar o carro em casa. Queremos provar que é possível ter um transporte público eficiente, confortável e seguro”, frisou o diretor.
Infraestrutura e Logística: Investimentos Elevados, Mas com Alto Retorno Social
Embora os custos do projeto não tenham sido totalmente revelados, Andela confirma que os valores envolvidos são elevados, tendo em conta não só a aquisição dos 15 autocarros já disponíveis, como também os investimentos em infraestrutura, sinalização, segurança e manutenção dos comboios e estações.
No entanto, o governo está disposto a assumir os custos necessários para melhorar significativamente a vida dos cidadãos. “Mais do que valores, o que nos move é o compromisso com a qualidade de vida urbana. Precisamos oferecer uma alternativa real e eficaz aos congestionamentos e aos longos tempos de deslocamento enfrentados diariamente”, afirmou.
Fase-Piloto e Perspectivas Futuras: Um Caminho Aberto para a Expansão
A fase-piloto arranca oficialmente no dia 23 de Junho e será acompanhada de perto por técnicos e analistas, que irão avaliar a adesão dos cidadãos, o desempenho logístico do sistema, os tempos de viagem, entre outros fatores relevantes.
Se os resultados forem positivos — o que se espera, tendo em conta os benefícios evidentes — o projeto será estendido para as demais linhas ferroviárias da capital, incluindo a linha do Limpopo e a linha de Goba. A intenção do Ministério dos Transportes é criar uma malha intermodal robusta, capaz de cobrir os principais eixos urbanos e suburbanos da Região Metropolitana.
Um Olhar Crítico: Por Que Este Projeto Pode Ser um Marco Histórico?
O lançamento deste projeto ocorre num momento em que as cidades africanas enfrentam desafios crescentes de mobilidade urbana, agravados pelo crescimento desordenado e pela pressão sobre os sistemas de transporte existentes. Maputo não é exceção. A adoção de um modelo intermodal representa um salto qualitativo em direção a uma cidade mais inteligente e sustentável.
Especialistas em urbanismo e mobilidade apontam que a integração de diferentes meios de transporte é a chave para o futuro das cidades africanas, promovendo não só a fluidez do tráfego, mas também a inclusão social e o acesso igualitário às oportunidades econômicas.
Com a combinação entre transporte ferroviário e rodoviário, o projeto do Ministério dos Transportes e Logística pode muito bem tornar-se um modelo a ser replicado em outras cidades moçambicanas e africanas.
A Reação dos Cidadãos: Expectativas e Esperanças
Nas ruas de Matola, Machava e Liberdade, o sentimento é de curiosidade e esperança. Muitos residentes afirmam estar ansiosos para experimentar o novo sistema. “Se funcionar como prometeram, vai mudar a nossa vida. Vamos chegar ao trabalho sem stress e gastar menos com combustível e manutenção dos carros”, diz João Chivambo, morador do bairro T3 em Maputo.
Outros destacam a importância de garantir a segurança e pontualidade do sistema. “Não adianta a gente ter trens e ônibus se eles atrasam ou são inseguros”, alerta Maria Inês, universitária.
O governo, por sua vez, promete que haverá monitoramento contínuo e canais de feedback abertos, para garantir que os ajustes necessários sejam feitos em tempo real.
Conclusão: O Futuro da Mobilidade em Maputo Começa Agora
O Projeto Intermodal de Transporte do Grande Maputo representa muito mais do que uma simples reconfiguração logística. Ele simboliza um novo paradigma de gestão urbana, baseado em planejamento estratégico, sustentabilidade e foco no bem-estar do cidadão.
Se bem executado, o projeto poderá não apenas resolver os crónicos problemas de trânsito na capital moçambicana, como também se tornar um modelo de mobilidade urbana moderna em toda a África Austral. Com apoio da população, acompanhamento técnico rigoroso e vontade política, Maputo poderá finalmente dar um passo decisivo rumo a uma cidade mais conectada, sustentável e humana.
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